"Queres ouvir uma lenda de Natal antiga?
Pois bem, vou contar-ta por palavras minhas.
Ora escuta:
Apesar de pobre, o sapateiro era homem bom e amigo de auxiliar quem
precisasse. Por isso gostava de ajudar os viajantes que por ali passavam quando
já era escuro, deixando todas as noites, na janela da sua casita, uma vela
acesa, de modo a guiá-los. E, mesmo doente e às vezes com fome, o pobre homem
nunca deixou de acender a vela, ajudando assim as pessoas a não se perderem.
Até que o rei e os homens mais poderosos do país entraram em guerra com os
do país vizinho. E, com isto, todos os jovens da aldeia tiveram de partir, para
combater no exército do seu rei, deixando a aldeia ainda mais triste e
desgraçada.
Passaram meses, senão anos, e os habitantes do país, como acontece sempre
que há guerras, viviam com privações e dificuldades cada vez maiores. Mães e
pais, mulheres e noivas sofriam com a ausência dos seus filhos, maridos ou
noivos. E não foram poucas as famílias que perderam os seus jovens na guerra.
Vendo a persistência do pobre sapateiro, que mesmo naqueles tempos duros e
difíceis continuava a viver a sua vida com esperança e um coração bondoso, os
habitantes da aldeia resolveram imitá-lo e, certa noite, precisamente na
véspera de Natal, todos acenderam uma vela nas janelas das suas casas,
iluminando assim toda a povoação. Como que por encanto, pela meia-noite os sinos
da igreja começaram a soar ininterruptamente, anunciando a boa nova: a guerra
terminara e os jovens regressavam enfim a casa!
Mulheres e homens puseram-se a gritar: “É milagre! O milagre das velas!”.
E é por isso, reza a lenda, que a partir desse dia, acender uma vela na
véspera de Natal se tornou tradição em muitos povos da Terra. "
Texto
inédito do escritor João Pedro Mésseder
Sem comentários:
Enviar um comentário